FREAKS INDICAFREAKS REVIEW

Melancholia do início ao fim

Quando a Melancholia se aproxima: o que resta a fazer?

Os primeiros sete minutos de Melancholia foram um tanto difíceis para mim. Talvez por não cumprirem aquela expectativa de agilidade e diálogos, bem comuns nos filmes que tenho o costume de assistir. No entanto, se tem algo que aprendi com Roma é que obras que começam desse jeito desafiador, normalmente me surpreendem pouco tempo depois.

O começo é o fim e, apesar sabermos disso, ainda existe uma esperança (pelo menos para mim). Acredito que assim como a obra é dividida em duas partes, também existem dois tipos de espectadores para o filme, os que o entendem mais como a Justine e os que o absorvem mais como a Claire, mas independentemente de qual deles você for, tenho certeza que sairá de Melancholia reflexivo.

O filme conta a história de duas irmãs e a forma como se relacionam entre si e com a vida, tudo isso, frente a uma grande onda de melancolia que faz parte da existência, mas também é causada pela aparição de um planeta com esse mesmo nome. Começamos a narrativa pelo casamento de Justine e eu confesso que não estava gostando muito dessa parte, que me gerou certa ansiedade. Sabe um Shiva Baby misturado com The Bear? Tudo vai dando errado e vemos aquela noite derreter na nossa frente.

Já no começo de Melancholia percebemos que Justine não está bem, ela é uma mulher depressiva e se você passa por isso ou convive com alguém que vive com a doença, vai identificar esse estado facilmente. Eu, que não sou depressiva, mas já estive muitas vezes no lugar da Claire, passei a sentir empatia por ela logo naquele começo, mas ao final do filme percebi que a parte da Justine me fez sentir e entender a Claire e a parte da Claire me fez sentir e entender a Justine.

As duas partes do filme acontecem dentro da casa de Claire, uma mansão que reflete bem o estado de espirito das irmãs

Com o casamento arruinado e uma vaga noção do que está por vir, entramos na parte da Claire, o que imagino acontecer alguns dias ou até semanas depois, quando Justine chega na casa da irmã e temos a informação de que o planeta Melancholia se aproxima da Terra, o que muitos discutem ser apenas um evento único e seguro, enquanto outros alegam que se trata de uma rota de colisão.

Muito mais dinâmica, é quando chegamos na segunda parte que a primeira se torna mais interessante e diria até que se faz necessária, pois o planeta é a explicação materializada para o que Justine estava sentindo desde o casamento e no seu momento presente também, quando mal tem forças para levantar e sofre ao não conseguir se deliciar nem mesmo com seu prato preferido. 

Afinal, qual é o ponto das convenções sociais? Somos tão pequenos e nossos sentimentos, a melancolia mais especificamente, é tão grande. A luz azul que irradia do planeta, o sentimento de que nada pode ser feito perto de um gigante como Melancholia, os cavalos inquietos e a enorme casa vazia, esses são alguns dos detalhes que nos facilitam a compreensão de que é assim que Justine se sente e que para ela, a chegada de um planeta não faz a mínima diferença.

Os vinte minutos finais do filme são de arrepiar, me deixaram impactada, desesperada e incomodada de uma forma que faz tempo que não me sinto e foi simplesmente esplendoroso. É possível sobreviver à Melancholia? Um planeta e um sentimento que foram se aproximando aos poucos, invadindo todo o campo de visão, se chocando contra os seres humanos…

Eu tenho esperança, mas Lars von Trier com seu conhecimento de causa, nos apresenta sua resposta.

O filme está disponível na Prime Vídeo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *