FREAKS REVIEW

Baú da Freaks: Lovecraft Country 

Essa crítica é feita sobre o ponto de vista de uma pessoa branca e, portanto, está longe de abranger completamente tudo o que essa série passa, então, leia, mas depois procure críticas de pessoas que tem vivência sobre o assunto (como o incrível vídeo do Raphael PH Santos!) tenho certeza que essas serão ainda mais enriquecedoras.

Mais uma observação: esse continua sendo o ponto de vista de uma pessoa que não leu o livro que baseou a obra, mas que vai no futuro, então se preparem para mais textos sobre o assunto.

Começo minha crítica dizendo que essa série é para todos e que se acha que não deve vê-la por causa das questões raciais, que talvez ela não seja para você, é aí mesmo que tem que assistir.

Lovecraft Country provavelmente será indicada ao Emmy 2021

Desde que comecei Lovecraft Country notei que essa seria uma série especial, mas não imaginava o quanto, a obra trabalhou a beleza da ancestralidade de uma forma que me deixou verdadeiramente emocionada, ao conhecer a família de Tic nos damos conta de todos os horrores que os pretos viveram, não só agora, como também no passado, e isso é assustador, mas ao mesmo tempo me fez pensar em como meu avô materno e todos os meus descendentes pretos eram corajosos e sobreviveram a tudo isso.

Dentro dessas cenas, como a do próprio massacre de Tulsa, que me foi apresentado em Watchmen, vemos o quão desumano o preconceito nos torna. E aqui é importante dizer que esse massacre havia sido quase completamente apagado da história americana e que se lembrar disso é sim muito importante. Não podemos nos esconder de toda a maldade feita pelo ser humano, temos que aprender a ser diferentes dela.

Ao ver essas situações horríveis, somos ensinados sobre o controle do nosso fogo interno, a luta pelo que importa! Já que cada episódio nos dá uma revolta absurda e ao mesmo tempo uma vontade de acabar com qualquer intolerância. Em cenas poderosas de luta e revolta vemos Leti quebrando os vidros dos carros, a Ruby se vingando do chefe de loja em que queria trabalhar, Diana xingando policiais corruptos e a Hippolyta com toda sua trajetória de se libertar das amarras sociais por meio de sua voz (parece que encontramos um padrão aqui, só mulheres fodas nessa série).

Preciso destacar o episódio de Hippolyta e de Ji-Ah, que foram os dois mais descolados da história e que me fizeram aplaudir essa série de pé. A profundidade delas e de outros personagens me deixou de queixo caído, não tem como não sentir empatia por Diana, Ruby, Montrose e os outros, cada história é muito bem trabalhada.

Ainda falando sobre a relação dos personagens, o que foi Ruby e Christina? Que casal estranho que eu gosto e como gosto! É algo muito singular e cheio de tensão entre as duas, a química das atrizes é palpável nas cenas.

Essa originalidade se reflete ainda em outros aspectos da série, como sua impecável trilha sonora imersiva e suas referências absurdas e não óbvias, cito aqui a nossa querida Elza Soares, que inspirou o visual de Beyond C’est.

Além do preconceito racial, a série traz também questionamentos e visões diferentes sobre assuntos como homofobia, o massacre e o descaso das nações com as guerras, o feminismo negro e branco, a violência policial, a brutalidade de ser impedido de ser quem é, e como tudo isso dói.

Outro dos grandes trunfos de Lovecraft Country é que o terror se mantém ali mas vai se modificando em cada episódio, tornando a experiência do espectador uma caixinha de surpresas. Tudo isso acontece graças a Misha Green, mulher maravilhosa que não citei no texto de primeiras impressões da série, mas a quem só posso só posso agradecer por tanta coisa maravilhosa. O roteiro dessa mulher é genial e espero ver mais dela nos próximos anos, aliás, vou atrás de Underground, de 2016, obra também feita por ela.

Eu, a minha casa e este site somos adoradores de Misha Green

Sobre algumas questões que tenho com a série, preciso falar de seu final, que resolve as coisas muito rápido e acabou não me emocionando. Acredito que se tirassem o episódio de aventura alá Indiana Jones (que para mim foi o mais fraco de todos) e fizessem um penúltimo episódio mostrando mais de Ardham, do plano da Christina e detalhando os novos poderes de Leti, o final seria muito melhor, foi algo que faltou.

Em minha opinião, a história acabou não conseguindo trabalhar a Ji-Ah de forma orgânica com o resto dos personagens que não o Tic e ela ser o Deus Ex Machina era manjado, foi algo que achei preguiçoso e que me tirou um pouco da escalada grandiosa que a obra estava fazendo.

Preciso dizer também que não gosto muito do romance entre o Tic e a Leti, não sinto química e acho que Leti se torna dele durante a temporada. É tudo muito apressado, inclusive a trama da gravidez, não gosto dessa parte da série e ela ocupa uma parte considerável da trama. Mas assim, a Leti sozinha é tudo!

Bom, neste texto fiz um apanhado da série e nem cheguei perto de dizer tudo o que ela representa e meu caro, se por um acaso você leu essa crítica e ainda não assistiu Lovecraft Country, sério, faça esse favor a si mesmo.

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