Uma Garota de Muita Sorte e a eterna luta para mostrar que a vítima é uma vítima 

Queria escrever sobre esse filme sem revelar muito de sua história, pois acredito que a trama é poderosa e impactante nesses casos, no entanto, não recomendo que ninguém assista Uma Garota de Muita Sorte sem saber dos gatilhos contidos no filme.

Neste texto e na nova obra da Netflix existem gatilhos sobre abuso sexual, gordofobia, tiroteios em escolas, gaslighting, além de cenas que deixam explícito um distúrbio alimentar. O longa tem classificação indicativa para maiores de 16 anos e é um daqueles para se evitar em dias difíceis.

Mas vamos lá, o filme Uma Garota de Muita Sorte é baseado no livro de Jessica Knoll e acompanha Ani FaNelli, uma nova-iorquina bem-sucedida, segura de si e que parece ter tudo: uma posição de prestígio em uma revista, um estilo que causa inveja por onde passa e um casamento dos sonhos no horizonte.

No entanto, quando o diretor de um documentário policial a convida para contar sua versão sobre um chocante acidente que aconteceu quando ela ainda era só adolescente, estudante da prestigiada Brentley School, Ani é forçada a enfrentar uma verdade sombria que ameaça desestruturar sua vida meticulosamente trabalhada.

Se tem uma coisa que Uma Garota de Muita Sorte faz bem é mostrar como homens e mulheres estão, na maioria das vezes, querendo a todo momento opinar sobre sobre a vida de uma outra mulher, direcionando ela para o que deveria fazer, como se vestir e, até mesmo, quanto pesar.

Nesse sentido, eu me irritei demais durante o longa e não porque ele é ruim, mas por retratar de uma forma tão real como são tratadas as vítimas de estupro, isso, quando elas são chamadas de vítimas. É horrível ter que ouvir pessoas dizendo para Ani como ela é uma garota sortuda, que o acontecido em sua vida era apenas uma brincadeira e dói saber que isso acontece todos os dias com milhares de mulheres espalhadas pelo mundo.

Espero que algum dia esse filme se torne o retrato de uma realidade distante, que não representa mais a forma como vivemos e os medos que eu e tantas outras pessoas têm. E enquanto isso não acontece, seguimos lutando para que as vítimas sejam ouvidas, para que sejam identificadas realmente como as vítimas dos abusos que sofreram.

Se optarem por assistir Uma Garota de Muita Sorte, assistam com cautela.