Pedágio: o pecado do outro é sempre mais caro
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Pedágio é um filme que me pegou. E não tinha como ser diferente, já que é uma obra que fala sobre sexualidade, hiprocrisia e religião, algo que está presente na vida de todas as pessoas, direta ou indiretamente.
Dirigido por Carolina Markowicz, que já entrou na minha lista de diretoras para conferir todos os filmes, o longa é acima de tudo real e mostra escancaradamente como o problema sempre é do outro, assim como o pecado maior, que nunca é nosso.
Aqui, Suellen que trabalha como cobradora de um pedágio, percebe que pode usar seu emprego como uma forma de fazer uma renda extra – mas de maneira ilegal. Desesperada, o motivo para entrar em um mirabolante esquema de roubo, é o de arrecadar dinheiro para a “terapia de conversão” do filho, que perto dos 18 anos, pode ser “para sempre gay”, de acordo com o que seus amigos religiosos falam.
A sinopse parece extremamente absurda, mas quando conhecemos a realidade de Suellen, passamos a nos compadecer um pouco com a personagem, que por conta do julgamento alheio e da constante pressão de uma “amiga”, acaba sacrificando sua felicidade e a do filho.
É muito doido e verdadeiro esse sentimento de tudo bem “pecar” para tirar alguém do “pecado”, algo que vemos em Pedágio, assim como em diversas igrejas e religiões por aí. Quer dizer, é tranquilo eu julgar, jurar de morte ou violentar pessoas por conta de suas orientações sexuais, porque estou expurgando o “pecado delas”… Me desculpe, mas oi?
Aliás, essa reflexão me leva diretamente para ele: preciso dedicar um parágrafo para Tiquinho, filho de Suellen, um personagem cativante e seguro de si, que sabe muito bem quem é e o que quer. Ele tem cenas ótimas durante toda a obra, mas as que contracena com Suellen, como a da foto e o momento final, são simplesmente fantásticas.
Quero falar também da fotografia fantástica existente aqui, gosto dessa mescla que temos do rosa do óculos do Tiquinho, assim como a paisagem poluída de Cubatão, que sob a ótica certa, parece muito bela. Tenho ainda que destacar a cena de encontro romântico de Tiquinho, que em um momento específico, parece ter sido tirada de uma pintura.
Estou impressionada com esse filme e com toda certeza assistirei seus antecessores, esperem logo mais uma crítica de Carvão.